Maio e Milles (Capítulo 5): A revolução elétrica

A repercussão de Kind of Blue foi enorme. Tornou-se o álbun de jazz mais vendido da história e abriu fronteiras jamais pisadas. Contudo, Miles, mesmo reconhecido como ícone da música americana, sofria com as manifestações de racismo em seu país. Durante uma série de show no Birdland, em Nova York, ele foi atacado por policiais ao ser visto com uma mulher branca. O caso foi abafado e Miles desestimulado a levar o caso aos tribunais. A década de 1960 foi a década de Miles Davis. Sua música foi a bússola para a nova direção do jazz. Os músicos queriam ser como Miles, ser vestir como Miles, ser cool como Miles. Homem elegante e vaidoso, ele chamava a atenção por seus ternos bem cortados seus belos relógios e seus carros esportivos.

Em 1963, o grupo que acompanhava o trompetista e que gravou Kind of Blue se desfaz definitivamente. Mais uma vez, Miles mostra que é um revelador de grandes talentos. Seu novo grupo é formado por George Coleman (saxofone tenor), Herbie Hancock (piano), Ron Carter (baixo) e Tony Williams (bateria). O primeiro registro desta nova banda é encontrado em Seven Steps to Heaven. Com o grupo, Miles imprimiu uma nova roupagem a composições antigas e a standards já consagrados. Interpretações viscerais e com maior velocidade foram uma das marcas registradas desse grupo. Em 1964, sai Coleman e, após algumas participações de outros tenoristas, chega ao grupo Wayne Shorter (particularmente, um de meus favoritos). Shorter tocava no grupo do legendário baterista Art Blakey ― o Jazz Messengers, que revelou também os irmãos Wynton e Branford Marsalis ― e logo se tornaria um dos principais compositores do repertório de Miles.

Esta formação ficou conhecida como “The Second Great Quintet” e foi a última formação totalmente acústica de Miles Davis. Dentre os álbuns gravados por esta grupo estão, Miles in Berlin, Miles Smiles, Miles in the Sky, Nefertiti e
Filles de Kilimanjaro, houve a participação mais dois músicos incríveis: Chick Corea (piano) e Dave Holland (baixo). Mais uma vez, Miles cria um novo estilo, o freebop.


Em 1968, Miles se casa com a modelo, cantora e compositora Betty Mabry (depois Davis). Essa relação influenciou fortemente a música de Miles. Isso fica claro em Filles de Kilimanjaro, não somente na foto da capa com a modelo e na música com o seu nome, mas principalmente no novo formato das composições. Betty Mabry o apresentou a ninguém menos que Jimi Hendrix, encontro esse que teve reflexo na musica de Miles. O trompetista entra na era elétrica, introduzindo intrumentos amplificados. Mais que isso, instala o que pode ser uma das pedras fundamentais do movimento fusion. Neste período, os elementos do rock e o funk são claramente notados. Hancock volta a tocar com Miles, além de Corea. Foi trazida também uma turma de alto calibre: John McLaughlin, Don Alias, Keith Jarett, Jack DeJohnette, John Scofield e o brasileiro Airto Moreira. Esse grupo acompanhou Miles até 1975, quando se retirou dos palcos.

Miles mudara profundamente seu estilo de composição. Conhecera novos músicos, e novos horizontes. Adotou a “música espacial”, longos solos em músicas que tinha até vinte minutos de execução. Como eram muito grandes, eram tocadas inteiramente somente no estúdio e editadas para caberem nos discos. Miles quis que sua música tivesse alcance maior do que os clubes de jazz. Aceitou reduzir seu cachê para abrir shows de artistas de rock. Até sua maneira de se vestir mudou, aproximando-se dos movimentos da época ― principalmente o Black Power. A reação do público foi muito positiva, principalmente dos jovens. Já os puristas torceram o nariz.

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