Maio e Miles (Capítulo 4): Kind of Blue

Em 14 de março de 1959 foi realizada a primeira seção de gravações do que seria a maior revolução da musica moderna, Kind of Blue. Miles Davis novamente se junta com John Coltrane, Julian “Cannonball” Adderley, Paul Chambers, Wynton Kelly e Paul Chambers (base de seu sexteto que gravou Milestones) e arregimenta o baterista Jimmy Cobb e o jovem pianista Bil Evans. Evans é parte essencial. Seu piano e construções concebidas com Miles trouxeram um colorido especial aos arranjos.

A ideia era despretensiosa  os arranjos foram feitos momentos antes das gravações. Os temas eram curtos, pois Miles queria que os músicos tivesse liberdade para os improvisos. Ali se consolidava o modal jazz, conceito que já havia introduzido em seus trabalhos anteriores com o grupo antes de sua temporada na França. O local da gravação era o 30th Street Studio, uma igreja ortodoxa abandonada em Manhattan que foi transformado em estúdio pela Columbia devido seus problemas de espaço. O local era temido pelos engenheiros de som da época, pois tinha um pé-direito enorme e que causava reverberação. Com o tempo o local se tornou requisitado para gravações de orquestras e musicais devido seu amplo espaço. Os temas gravados foram So What e Freddie Freeloader. A segunda seção de gravações aconteceu em 22 de abril. Nela foram registrados Blue and Green, Al Blues e Flamenco Sketches. Miles entrou no estúdio decidido a terminar o trabalho do mês anterior. O curioso é que os músicos não esperavam que o disco tivesse tamanha repercussão e estavam mais interessados em trabalhos paralelos que estavam realizando.


Kind of Blue é o divisor de águas do jazz. Ele é escutado, estudado e apreciado por gerações e gerações de músicos e amantes da música. Cinco temas que transformam toda a concepção do jazz. Músicos de blues, rock e da música erutida reconhecem nesta gravação que algo único foi realizado. Não existe jazz sem Kind of Blue. Não existe música moderna sem Kind of Blue. É ruptura de padrões. É um exemplo do que existe de mais belo e sofisticado nas artes. Após 50 anos de seu lançamento, a vendagem do álbum ainda tem números similares. É a revolução e a síntese.

Eu tinha 15 anos quando ouvi Kind of Blues pela primeira vez. Já se vão mais de vinte anos e sempre descubro algo novo. Até hoje tenho a mesma sensação de estar diante de algo elevado que, de alguma forma, me aproxima de Deus. É como se Ele me mostrasse por qual motivo criou a humanidade.

Miles Davis - Blue and Green

Comentários

  1. Correto e preciso são dois dos adjectivos que vêm à minha mente quando leio seu belíssimo texto sobre o “Kind of Blue” do Miles Davis! Como você escreve, o disco funciona que nem “um divisor de águas”, sendo apreciado e aplaudido por várias gerações de músicos e pessoas comuns dentro e fora dos limites do jazz. Porque, na verdade, com este disco o jazz perde as fronteiras, mesmo! A música de Miles é elevada, sublime e arrasadora se você escutar com a atenção que ela merece. Fiquei pensando onde você ia buscar tamanha inspiração para escrever algo tão bonito e sobretudo onde você iria escutar essa música... Não sei quais são suas paragens obrigatórias mas deixo a sugestão de uma que eu checko a toda a hora para as novidades dentro e fora do jazz! http://cotonete.clix.pt/ é um site bastante completo de rádio e música.

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  2. Quando me deparei com “Kind of Blue” pela primeira vez, estava eu com 10 anos de idade, ja se vão 25 anos, e ate hoje me emociono muito, quando coloco meu vinil na vitrola.

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