A Fila e a Oportunidade

Hora do almoço, fila do restaurante Verde Vício, no centro do Rio. Lugar de comida saudável e preços condizentes com a proposta do local. Gente descolada e inteligentinhos frequentam – e tem também quem quer se alimentar direito. Tem fila. E a fila é aquilo: o lugar perfeito para um pequeno teste de mau-caratismo. É batata (não o legume), sempre há quem fura a fila. Arco-reflexo, naturalizado, instintivo.

Eu vou além: genético. E me refiro às genérica de nossa formação social, dos pesos e dos valores que abraçamos ou abdicamos para alcançar sucesso ou riqueza. Parece bobagem. O que tem demais uma furada de fila inofensiva? A resposta pode estar no censo do oportunidade. Assim como roubar bilhões dos cofres públicos, furar fila é oportunidade. Nós exigimos dos políticos uma ortodoxia que não temos no cotidiano. Discordam? Então o que dizer da quantidade enorme das notórias falsificações de carteiras de estudante para pagar meia entrada? Dos roubos e receptação de mercadorias? Ou então, dos carros estacionados indevidamente nas vagas de idosos e deficientes, assim como nas calçadas? Sim... O que tem?

O que estamos vendo no noticiário não é nada além de uma bela furada de fila. Só que não é a fila do almoço, em que o espertinho ganha um par de minutos. Mas sim uma fila em que o Brasil perde décadas, gerações... Pelas minhas contas, já perdemos mais de cinco séculos.

- Alexon Fernandes

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