Os tucanos, a estrela vermelha e a árvore

Lula quer polarizar as eleições. Dois motivos: a garantia de palanque e o medo de um massacre a sua pupila (nada popular, diga-se) Dilma Rouseff. Alma ao diabo ele já vendeu. Agora só falta combinar com o demônio rebelde Ciro Gomes e com o outro time: os tucanos, que apesar de alados de anjos não tem nada. O presidente, como bom pelego que sempre foi, já traça alianças e põe preço nas cadeiras. Para Ciro, ofereceu uma absurda candidatura ao governo de São Paulo. A polarização das eleições de 2010 é uma jogada esperta, já que ela pode ressaltar as duas características folclóricas dos dois lados. A de que os tucanos que não capitalizam seus feitos e a de que o PT que se apropria dos feitos dos outros. Vejamos.

A crise financeira mundial, já chamada por alguns de A Grande Recessão, teve efeitos devastadores. Contudo, as conseqüências não foram tão drásticas assim. Historicamente, a taxa Selic sempre fora muito alta e ficava mais alta ainda em crises passadas, na tentativa de evitar a fuga de capitais ou um aumento exagerado de preços. Quando entramos nesse período tenebroso, a “gordura” para se queimar era tanta que ao chegarmos aos 9,25% não só continua-se com uma taxa muito alta perto de outras grandes economias, mas de certo modo se estimulou a oferta de crédito, a produção e a manutenção de empregos em alguns setores. O grande problema ainda continua sendo nos ramos da economia que depende de exportação, principalmente as commodities.

Tudo mundo lindo, se não fosse a parca memória da massa brasileira. De acordo com a definição de homem-massa de Ortega y Gasset, este não necessariamente tem baixa instrução, ele somente precisa seguir os movimentos das massas e agir de acordo com os tais. Se hoje passamos por uma crise "melhor" que a crise dos outros, é porque em 1994 foi colocado em prática o Plano Real, cujas bases principais eram o controle da inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante. Essas foram as bases para a casa não cair. Nos primeiros anos de Real e consequentemente de PSDB, o PT gritava contra. Lula dizia absurdos sobre a meta inflacionária, o déficit na balança comercial e tantos outros contingenciamentos de um país que retoma o crescimento. O país ganhou estabilidade econômica, atraiu investimento externo para produção e adquiriu credibilidade internacional. Beleza.

Em sua campanha de 2002, Lula era tão desacreditado pela comunidade econômica e produtiva nacional e internacional, que se viu forçado a escrever uma carta (A Carta-Compromisso de Lula), comprometendo-se em manter a política econômica. Aí foi o primeiro vacilo do PSDB, era a hora de esmagar a candidatura de Lula e reivindicar a autoria e manutenção da política econômica. Não o fizeram e perderam a eleição. A coisa foi tão gritante que Henrique Meirelles foi escolhido presidente do Banco Central. A massa não lembra, mas Meirelles foi eleito deputado federal pelo PSDB nas mesmas eleições, além de ter sido presidente do BankBoston, o que dava lastro ao que Lula prometera em sua Carta.

Mesmo assim, os rebeldes do PT chiavam em público. Eu me lembro da mulher-corneta Heloísa Helena (não se esqueçam, ela é cria do PT) berrando em plenário que o barbudo tinha traído o partido com a manutenção das metas de superávit primário. Ela esganiçava e cuspia no microfone da tributa, exigindo uma reparação do governo da estrela vermelha. Já os dóceis viram que era uma boa manter as coisas do jeito que estavam, pois era a única chance real de acerto do novo governo. Acertaram. Podem reparar, nas outras áreas, continuamos na lama do atraso. Soma-se a isso a onda incontrolável de corrupção do legislativo federal.

Em 2006, Geraldo Alckmin se focou no mensalão. Dançou. Esqueceu que o povo não estava nem aí para a corrupção dos outros, contado que o Lula não estivesse comprovadamente envolvido. O erro foi achar que a reação do povo seria a mesma de 1992, no impeachment de Collor. Os dias atuais são caracterizados pela apatia, pelo, individualismo e por uma honestidade torta. Como o povo anda com as suas noções de certo e errado meio deturpadas, não se meche.

Os tucanos devem estar gostando dessa historia de lado A contra o lado B. Afinal, figuras como Cristovam Buarque e o próprio Ciro Gomes tiram votos tanto do PT quando do PSDB. Mas se bobearem pela terceira vez e não resolverem suas brigas de ego entre Serra e Aécio, as eleições correm o risco de ser um referendo. É como se alguém plantasse uma árvore na fazenda de quem sofre de amnésia. Outro vem e colhe os frutos e diz ao dono: A árvore foi plantada por mim. O dono, doente, acredita.

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