No Brain

Sinal dos tempos. Uma combinação nada agradável se tornou comum em nossos dias: o excesso de informação com a escassez de inteligência. O homem médio passa por um processo de hipotrofia intelectual. Ao passo que num jornal de domingo contem mais informação do que uma pessoa adquiria em sua vida toda durante a Idade Média, os atos de burrice acontecem em profusão.

As universidades se multiplicam e nunca tivemos profissionais tão rasteiros. O Brasil tem mais médicos por habitantes do que a Índia (com seus mais de um bilhão de habitantes). Mesmo assim, num teste feito com residentes no estado de São Paulo, a maioria não soube identificar um quadro de tuberculose. A OAB já declarou que existem faculdades de Direito em excesso no país, mas penamos com a qualidade de muitos advogados que estão por aí ― sem citar a multidão que não passa na prova da Ordem. Há uma corrente que arrasta toda uma geração e compromete as futuras. A educação é cada vez mais superficial, o homem médio não se aprofunda nos assuntos e sim bóia ― ou surfa, na melhor das hipóteses ― numa quantidade de temas limitados à sua tribo ou à sua necessidade. Rareiam os indivíduos que discorrem com propriedade sobre vários assuntos, que se deleitam na leitura de obras sofisticas, que se interessam por várias formas de arte e que não se contentam com a informação fácil e vão atrás do conhecimento.

A mediana passa pela grande população que não sabe interpretar o que lê. E não estou falando de textos complexos ou pesados, as sinapses falham com frases simples. Um dia desses, visitando o blog
Abulafia, vi que tem gente que consegue transportar as praias do Senegal para o Oceano Pacífico e põe a culpa no autor do post. Detalhe, o asno que fez o escarcéu simplesmente não sabia ler uma oração óbvia. Um digno representante do grande contingente que mal consegue ler o próprio nome, algumas cédulas monetárias e mais alguns sinais cotidianos. Essa gente se infestou não só por todos os cantos, mas também pelos topos do poder, destilando sua arrogância típica dos ignorantes felizes. Até os títulos, cujo papel é atribuir distinção a quem os recebe, estão caindo na vulgaridade. Não se aumenta o nível, mas sim se diminui a exigência em alguns setores. O curioso é que o mercado de trabalho é cada vez mais criterioso. É preciso saber uma língua estrangeira e ter uma pós-graduação para, em alguns casos, lidar com pessoas que não sabem fazer uma conta de somar. Por falar nisso, já notaram a indústria da pós-graduação?

Costumo ser otimista com um monte de coisas, mas não consigo ser com relação a isso. Às vezes me sinto cercado, acuado e isolado até. O que me conforta é que ainda existem ilhas de inteligência. Ainda estão disponíveis atividades, canais de TV, sites, livros e espetáculos que prezam pelo respeito e amor aos neurônios. Meu único medo é que, da mesma forma que temos as guloseimas no sugar, tenhamos uma sociedade que aja só por instinto, a sociedade no brain.

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