A Didática Musical de Michael Jackson e Quincy Jones

Morreu Michael Jackson. A única coisa boa é que morreram também escândalos, acusações e pedofilia, esquisitices, compulsão por compras e tantas outras mazelas humanas. Este blog não dedica suas linhas a falar das intrigas de celebridades, mas é inegável que o entorno de Michael Jackson foi preenchido por essas coisas todas. O blogueiro aqui também é daqueles que recebia olhares de estranheza quando dizia que gostava de Michael Jackson. Nos últimos tempos gostar de Michael Jackson era algo similar a torcer pelo América. Quem não foi adolescente nos anos 70 e 80 não sabe o que representou nem o Michael Jackson e nem o clube tijucano.

Denunciando minha idade (os 36 anos batem a minha porta), prefiro me ater no que Michael representa para as músicas negra americana e pop mundial. Em toda a obra do artista, os dois álbuns que são primordiais para esse entendimento são Off The Wall e Thriller. De tão bons, esses registros são imitados até hoje. O grande responsável por isso (em termos musicais e técnicos), além de Jackson, é Quincy Jones. Essa dupla ser tornou o ponto a ser alcançado ― inclusive por eles mesmos. A didática destes discos é percebida claramente na música atual. Vejamos.

A gravação de Don’t Stop ‘Til You Get Enough, em Off the Wall, tem como principal a seção rítmica. Baixo sintetizado, guitarra e percussão dão todo o embasamento para a “história” que vai ser contada. Reparem no final da música, eles estão lá, do mesmo jeito que começaram. É o groove. Você vai ouvir essa música cem vezes e sempre descobrirá algo novo. Essa forma é seguida exaustivamente no R&B e no Hip-hop. Vide as produções de Jay-Z, Wil-I-Am e Timbaland. Ainda neste álbum, temos a belíssima Rock With You, que mistura elementos da Disco e em alguns momentos parece que é Diana Ross quem está cantando. Mas a revolução foi o fato de Michael Jackson gravar todos os vocais, trazendo uniformidade entre as vozes de fundo e a voz principal. Essa técnica acompanhou o músico por todos os trabalhos posteriores, além de ser copiada por um caminhão de gente. Exemplos? Justin Timberlake, Maxwell, D’Angelo, Usher e Ne-Yo. Considero Off the Wall um daqueles chamados discos para músicos.

Thriller é um registro pop, o mais vendido de todos. Mudou a estética dos clipes e dos shows de massa. Os videoclipes não foram os mesmos, tanto na concepção quanto na aceitação. Contudo, esse álbum soa como uma continuação do que foi iniciado no disco anterior. Thriller tem o mérito de mercado, com belas composições e encontros imbatíveis de Michael com Paul McCartney e Eddie Van Halen.

Mas o mérito musical está em Off The Wall. Os fundamentos da música negra americana feita hoje estão todos lá. É isso que importa! De Michael Jackson o que fica é isso. As manias estranhas, os remendos no rosto, as doenças do corpo e da alma são assuntos para os profissionais de saúde e para os tablóides de quinta.

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