"Isso é cambalacho!”

Entre março de 1985 e março de 1990, José Sarney foi o presidente da república. Foi o tempo do Plano Cruzado, de Dilson Funaro, dos fiscais do Sarney, do congelamento de preços, do sumiço da carne, da inflação galopante e de um carro usado custando mais caro do que um zero. Talvez alguns que leiam este blog estivessem mais interessados em seus Ataris e suas Barbies, mas seus pais lembram-se dessa lambança toda. Foi o primeiro governo civil após o regime militar. A retomada do processo democrático estava nas mãos de Sarney e ele conduziu a coisa de forma digna. Aceitava todos os xingamentos, as sátiras, os deboches e as ofensas. Primou pela manutenção das instituições democráticas, é verdade.

Em 1989, o Brasil teve eleições para presidente da república. Foi um processo limpo, que teve seu segundo turno disputado por Lula e Collor. O segundo bateu o primeiro, a história nos conta e alguns bolsos sofrem até hoje. Houve uma série de debates, transmitidos em rede nacional entre os dois. Algo em comum entre os candidatos era o uso de Sarney como saco de pancadas. Lula se vangloriava de ser um crítico voraz de Sarney de da Nova República. Collor, por sua vez, acusava o então presidente de armar um apoio secreto a Lula e repetia: “Isso é cambalacho!”. Lula acusava quem usava a política do “é dando que se recebe”, dizia que o Brasil precisava de uma revisão de valores morais e que tudo deveria ser feito às claras, defendia o calote da dívida externa por motivos políticos e não econômicos e a (acreditem!) moralização das estatais.

O tempo passou, Lula perdeu mais duas eleições e ganhou mais duas. Em seus mandatos, os casos de corrupção entraram em metástase. Ontem, Sarney, senador pelo Amapá e morando no Maranhão, presidente do Senado, subiu a tribuna para se defender dos escândalos da casa (alguns envolvendo parentes seus). Disse ele: “A crise não é minha. A crise é do Senado.” Esqueceu de dizer que ele mesmo nomeou 50 dos seus 180 diretores, inclusive Agaciel Maia. Lula, em mais um de seus passeios pelo mundo ― no Cazaquistão?! ―, disse que Sarney merece um tratamento diferenciado por sua história política. Collor, que hoje apóia Sarney, tinha razão.

“Isso é cambalacho!”

Comentários

  1. Me amarrei no argumento do "respeitem os meus cabelos brancos". Esqueceram de dizer ao velho oligarca e que "até os canalhas envelhecem"...

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