Rio 2016? Como assim?
Nunca deixei de esconder o meu amor incondicional à cidade do Rio de Janeiro. O Rio é minha cidade por nascença e por maneira de ser. Esse meu amor me obriga a ser realista e não me deixa fechar os olhos para todos os imensos problemas que a cidade enfrenta. Violência, tráfico de drogas, população de rua, favelas em crescimento exponencial, descaso e inoperância dos mandatários. Mas, incrivelmente, a cidade permanece bela. Uma beleza castigada, é verdade, mas inegável. O movimento agora por aqui é a candidatura da cidade à sede das Olimpíadas de 2016. É a segunda tentativa de emplacar uma edição dos jogos olímpicos. A primeira, para as Olimpíadas de 2012, fracassou. E pelo visto a coisa vai desandar de novo. Eu espero por isso. Sou contra a realização das Olimpíadas no Rio de Janeiro.
O pressuposto para uma cidade ser a sede de um evento desse porte está no fato dela possuir viabilidade estrutural para receber os desportistas (em suas delegações), assim como turistas, jornalistas, etc. Definitivamente, não temos tal estrutura ― não a teremos em seis ou sete anos. Nosso transporte é ruim, faltam linhas de metrô suficientes e estas são de construção demorada. Nossas vias são insuficientes, o projeto urbanístico é caquético e nossas instalações esportivas não são grande coisa. As que foram construídas para os Jogos Pan-americanos de 2007 estão sendo mal aproveitadas. Mesmo com a realização de uma Copa do Mundo em 2014, as melhorias na cidade não seriam capazes de adequá-la a uma Olimpíada. Veja o exemplo do Maracanã. Na final da Taça Rio, o estádio recebeu 78.000 pessoas. A prefeitura, com seu choque de ordem, proibiu os carros de estacionarem nas imediações ― Radial Oeste, Eurico Rabelo, Prof. Manuel de Abreu, entre outras. Muitos carros foram deixados nas ruas e avenidas mais distantes, mas em locais também proibidos. Depois do início do jogo, Eduardo e seus reboques fizeram uma verdadeira limpa. Foram dezenas e dezenas de carros rebocados. Isso sem contar os carros nas calçadas de ruas residências, impedindo a passagem dos pedestres e a infestação de flanelinhas (outra praga urbana). Tudo bem, numa Olimpíada, a maior parte dos expectadores é de turistas, que, portanto, não utilizarão carros. Isso agrava o problema, já que as pessoas vão de carro para um estádio de futebol porque não temos transporte de qualidade para levá-las, principalmente quem vem das zonas oeste e sul.
Outro problema é a construção dos equipamentos esportivos. Vejam a arena poliesportiva de Jacarepaguá. Virou casa de shows. O estádio João Havelange (Engenhão), é lindo, moderno, está nas mãos de um grande clube de futebol cuja administração parece ser coerente. Contudo, sofre com o aproveitamento aquém de sua capacidade. Ele tem pistas modernas de atletismo que poderiam ser aproveitadas para a formação de atletas de ponta. A Baía de Guanabara, onde muitos esportes aquáticos seriam realizados, está mais que poluída. Até agora, não vi nada na direção de uma solução efetiva de sua despoluição. O mais crítico, porem, é o superfaturamento das obras, essa doença brasileira. Somos o país do dez por cento. Seria impossível impedir que mãos famintas sejam colocadas na cumbuca. O orçamento original do Pan R$ 1,8 bilhões (!!). O custo final aos cofres públicos foi de R$ 3,7 bilhões (!!!), aproximadamente 800% mais que o orçamento original. Esse dinheiro, em sã consciência, deveria ser usado para investimentos em segurança, educação, projetos de infra-estrutura e ainda sobra dinheiro para ajudar o Brasil virar uma potência olímpica.
O legado de uma edição dos jogos olímpicos para uma cidade é enorme. O exemplo mais notável nos últimos anos é Barcelona. Depois de 1992, a cidade se tornou o destino mais procurado por turistas na Europa, desbancando cidades como Londres e Paris. Isso devido à estrutura moderna deixada pelo esforço da realização do evento. Barcelona sozinha recebe a mesma quantidade anual de visitantes que o Brasil todo. Nosso balão de ensaio foi o Pan. Diferentemente do que se esperava, depois do Pan, a sensação era muito semelhante ao do fim do desfile das escolas de samba. Uma bela festa, mas que não muda nada na cidade depois de sua realização. Algumas das promessas no projeto do Pan foram a construção da estação de metrô na Barra da Tijuca, a duplicação da Lagoa-Barra e a despoluição de lagoas na zona oeste (e da já citada Baía de Guanabara). Essas obras, obviamente não aconteceram. A cidade está do mesmo jeito.
O custo das Olimpíadas de Pequim foi de US$ 40 bilhões, tornando essa edição a mais cara da história. Os Jogos Olímpicos de Londres, lugar que não precisa mostrar magnitude, está orçado em US$ 14 bilhões. Quanto custaria as Olimpíadas no Rio? Quantos investimentos em segurança, educação e infra-estrutura poderiam ser feitos com esse valor? Quem nos garante que o valor orçado seria factível? Hoje, representantes do Comitê Olímpico Internacional chegaram ao Rio. O Eduardo Paes já disse que o povo “tem que dar tchauzinho e agradar os caras”, numa clara demonstração de quão raso é o argumento do executivo estatal. Se eles tomarem como base de comparação a situação da cidade entre antes e depois do Pan, podemos dar adeus à candidatura carioca.
À propósito, as outras cidades candidatas são Chicago, Madri e Tóquio.
O pressuposto para uma cidade ser a sede de um evento desse porte está no fato dela possuir viabilidade estrutural para receber os desportistas (em suas delegações), assim como turistas, jornalistas, etc. Definitivamente, não temos tal estrutura ― não a teremos em seis ou sete anos. Nosso transporte é ruim, faltam linhas de metrô suficientes e estas são de construção demorada. Nossas vias são insuficientes, o projeto urbanístico é caquético e nossas instalações esportivas não são grande coisa. As que foram construídas para os Jogos Pan-americanos de 2007 estão sendo mal aproveitadas. Mesmo com a realização de uma Copa do Mundo em 2014, as melhorias na cidade não seriam capazes de adequá-la a uma Olimpíada. Veja o exemplo do Maracanã. Na final da Taça Rio, o estádio recebeu 78.000 pessoas. A prefeitura, com seu choque de ordem, proibiu os carros de estacionarem nas imediações ― Radial Oeste, Eurico Rabelo, Prof. Manuel de Abreu, entre outras. Muitos carros foram deixados nas ruas e avenidas mais distantes, mas em locais também proibidos. Depois do início do jogo, Eduardo e seus reboques fizeram uma verdadeira limpa. Foram dezenas e dezenas de carros rebocados. Isso sem contar os carros nas calçadas de ruas residências, impedindo a passagem dos pedestres e a infestação de flanelinhas (outra praga urbana). Tudo bem, numa Olimpíada, a maior parte dos expectadores é de turistas, que, portanto, não utilizarão carros. Isso agrava o problema, já que as pessoas vão de carro para um estádio de futebol porque não temos transporte de qualidade para levá-las, principalmente quem vem das zonas oeste e sul.
Outro problema é a construção dos equipamentos esportivos. Vejam a arena poliesportiva de Jacarepaguá. Virou casa de shows. O estádio João Havelange (Engenhão), é lindo, moderno, está nas mãos de um grande clube de futebol cuja administração parece ser coerente. Contudo, sofre com o aproveitamento aquém de sua capacidade. Ele tem pistas modernas de atletismo que poderiam ser aproveitadas para a formação de atletas de ponta. A Baía de Guanabara, onde muitos esportes aquáticos seriam realizados, está mais que poluída. Até agora, não vi nada na direção de uma solução efetiva de sua despoluição. O mais crítico, porem, é o superfaturamento das obras, essa doença brasileira. Somos o país do dez por cento. Seria impossível impedir que mãos famintas sejam colocadas na cumbuca. O orçamento original do Pan R$ 1,8 bilhões (!!). O custo final aos cofres públicos foi de R$ 3,7 bilhões (!!!), aproximadamente 800% mais que o orçamento original. Esse dinheiro, em sã consciência, deveria ser usado para investimentos em segurança, educação, projetos de infra-estrutura e ainda sobra dinheiro para ajudar o Brasil virar uma potência olímpica.
O legado de uma edição dos jogos olímpicos para uma cidade é enorme. O exemplo mais notável nos últimos anos é Barcelona. Depois de 1992, a cidade se tornou o destino mais procurado por turistas na Europa, desbancando cidades como Londres e Paris. Isso devido à estrutura moderna deixada pelo esforço da realização do evento. Barcelona sozinha recebe a mesma quantidade anual de visitantes que o Brasil todo. Nosso balão de ensaio foi o Pan. Diferentemente do que se esperava, depois do Pan, a sensação era muito semelhante ao do fim do desfile das escolas de samba. Uma bela festa, mas que não muda nada na cidade depois de sua realização. Algumas das promessas no projeto do Pan foram a construção da estação de metrô na Barra da Tijuca, a duplicação da Lagoa-Barra e a despoluição de lagoas na zona oeste (e da já citada Baía de Guanabara). Essas obras, obviamente não aconteceram. A cidade está do mesmo jeito.
O custo das Olimpíadas de Pequim foi de US$ 40 bilhões, tornando essa edição a mais cara da história. Os Jogos Olímpicos de Londres, lugar que não precisa mostrar magnitude, está orçado em US$ 14 bilhões. Quanto custaria as Olimpíadas no Rio? Quantos investimentos em segurança, educação e infra-estrutura poderiam ser feitos com esse valor? Quem nos garante que o valor orçado seria factível? Hoje, representantes do Comitê Olímpico Internacional chegaram ao Rio. O Eduardo Paes já disse que o povo “tem que dar tchauzinho e agradar os caras”, numa clara demonstração de quão raso é o argumento do executivo estatal. Se eles tomarem como base de comparação a situação da cidade entre antes e depois do Pan, podemos dar adeus à candidatura carioca.
À propósito, as outras cidades candidatas são Chicago, Madri e Tóquio.
Concordo em gênero, número e grau!
ResponderExcluirRio de Janeiro é uma cidade bonita mas sua beleza anda apagada. É difícil poder relaxar numa cidade onde tantas passoas são assaltadas, carros roubados ...É uma belea mal cuidada, e a gente sabe que mesmo entre as mais bonitas, o cuidado é fundamental e decisivo.