Muros

Há dois anos, escrevi no blog Abulafia sobre a política de cotas raciais nas universidades. Deixe claro que sou contra essa medida, por uma série de motivos ― pessoais e coletivos. Um desses motivos é o estímulo que isso trás à criação de guetos. Pois bem, a coisa está indo além, pelo menos aqui no Rio de Janeiro. Só que agora o método é outro.

Eduardo Paes, o bacharel, quer construir muros cercando as favelas, numa tentativa de impedir a expansão das mesmas nas áreas verdes da cidade. Já dá para ver que o rapaz gosta de soluções simplórias. Murar, cercar, isolar é criar uma situação de exceção. Quando na verdade precisamos de inclusão. Hoje, as favelas crescem verticalmente, mantendo seus moradores perto dos locais de trabalho. A Rocinha é o maior exemplo, com suas construções de alvenaria, muitas delas com alguns andares ― inclusive a polêmica começou por causa da derrubada de um edifício na favela. Os dados oficiais revelam que a maior parte das invasões ao espaço de mata virgem da cidade é promovida por construções da de luxo (Instituto Pereira Passos).

Cotas e muros são a afirmação de que estamos caminhando para uma sociedade de guetos. E triste é a sociedade que é imobilizada por seus guetos. Ela empobrece e atrofia. É a contramão de nossa formação. O Brasil ― e principalmente o Rio ― tem por peculiaridade a interação entre as camadas sociais, as origens e os tons de pele. Sempre combinamos muito bem as expressões artísticas, os estilos musicais, os temperos da culinária. Ao invés de estimular isso, levando cidadania aos mais pobres, Eduardo faz justamente ao contrário com seu muro. Murar não significa esconder, vide Berlin e Gaza. Murar é assumir a incapacidade, ou falta de vontade, para resolver o problema.

Recomendo a leitura dos blogs do Aydano André Motta e do Sérgio Besserman sobre o assunto.

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