Robin Hood da Silva

Lula parece não ter mais limites, se é que já os teve. A última é comprar barulho com um de seus maiores aliados, Sérgio Cabral. Um ano antes da eleição, o “prisidenti” balança as estruturas de seu palanque nas terras fluminenses, ao propor que distribuição dos royalties pagos a estados e municípios seja revista para a exploração do pré-sal.

Sérgio Cabral é notadamente um articulador que, ao se aproximar de Lula, aglutinou uma série de vantagens que governos anteriores não conseguiram. É histórico o quebra-pau entre Rio de Janeiro e Brasília. Desde que Brizola foi eleito em 1982, as torneiras federais se fecharam. Cabral virou cabo eleitoral de Lula, que o enche de afagos e ajudou colocar Eduardo Paes na prefeitura carioca. Tudo levava a crer que o caminho de Dilma nos recantos do Rio estava sendo construído. Mas o caldo pode desandar.

A mim parece que Lula precisa tirar dinheiro de algum lugar para dar aos estados do nordeste. Lá estão os currais eleitorais da gente que dá sustentação ao governo e apoio ao candidato do PT. Essa gente está principalmente no Senado (adivinha quem?) e o Senado é uma das coisas mais desproporcionais da política brasileira. Todos os estados tem direito ao mesmo número de senadores, independente do tamanho de sua população, peso de sua arrecadação, ou algo parecido. São Paulo tem o mesmo número de senadores que o Piauí. Ou seja, não é coincidência que os últimos escândalos da casa sejam protagonizados por um grande número de senadores de estados cujos currais são muito bem definidos. Os desvarios de Mercadante e Suplicy tem muito do medo de ter que responder aos seus eleitores em SP.

Sendo assim, ao cutucar na questão dos royalties, Lula pode enfraquecer as relações tão cordiais e interessadas com Cabral. Essa grana é essencial tanto para Rio Janeiro quanto para Espírito Santo, além de muito bem-vinda em São Paulo. Mudar a regra do jogo — e distribuir entre outros estados — pode garantir apoio no nordeste, mas pode fazer a candidatura de Dilma patinar no sudeste. De mãe do PAC, ela pode se transformar em madrasta do pré-sal.

Cabral já chamou isso de política de Robin Hood. Tem outros que gostam de comparar Lula à Ali-Babá. O certo é que tanto um quanto o outro personagem tem algo em comum. Dou um doce para quem acertar.

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