Pedra Barata

A Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio de Janeiro informou que 90% dos menores de rua da cidade são viciados em crack. Em números absolutos, mais de 400 crianças e adolescentes são atingidos pela droga. O problema é mais grave do que se imagina, por ser na verdade uma combinação de outros problemas.

O primeiro, notório, é a quantidade de crianças espalhadas pela cidade. Um contingente enorme é facilmente visto nos bairros de maior concentração. As regiões da Tijuca e do Centro, por exemplo, estão tomadas por jovens nos sinais de transito, nas portas de bancos e supermercados. Uma imagem triste, de difícil explicação para nós adultos e para os pequeninos que nos acompanham.

O outro problema é que, antigamente, os poucos menores que vagavam pelas ruas eram viciados em cola de sapateiro e ficavam atrás de restos desse produto em latas de lixo de oficinas de artefatos de couro. Com a chegada do crack, chegou também o tráfico estruturado e lucrativo. Como os menores não tem dinheiro para sustentar seu vício, tornam-se mais violentos e caem na prostituição. Ou seja, a solução do problema que antes era somente social, passa a ser um problema de segurança pública.

O terceiro problema e talvez mais assustador, é que o crack é barato. Sempre ouvimos dizer que droga barata é droga de pobre. A maconha (relativamente mais barata que a cocaína, por exemplo) desmente essa idéia. Basta ver sua grande disseminação nas classes de maior poder aquisitivo. A grande armadilha está justamente aí, no preço. Sendo barata, uma droga permite a introdução de pessoas muito mais jovens ao consumo. Um garoto de 11 anos, oriundo de uma família com boas condições financeiras, estudando em um bom colégio, pode muito bem usar o dinheiro do lanche para compra uma pedra de crack.

É muito preocupante, pelo menos para mim, essa situação. Porque além de estarmos perdendo uma segunda geração paras as ruas, a devastação que o crack pode causar na vida de uma pessoa e sua família é enorme. É momento de olharmos com mais cuidado ainda para os jovens que nos cercam. A crueldade dos dias atuais, onde somos medidos pelo que temos e não pelo que somos, fabrica um exército de frustrados e infelizes. O lado mais fraco é o das crianças.

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