Na madrugada com a Xuxa

Na madrugada do último domingo (29), a insônia me permitiu assistir o programa Altas Horas, apresentado por Serginho Groisman. O programa teve uma participação da Xuxa ― apresentadora e “vendedora de CDs e DVDs”. Em certa altura da entrevista, ela respondeu a pergunta de um internauta sobre a violência no Rio de Janeiro. Xuxa disse, categoricamente, que não tem mais esperanças de uma recuperação no quadro de violência na cidade. E mais grave, disse que, a tendência é só piorar. Minha reação automática foi concordar. Afinal, esse é o cenário que se revela. Contudo, essa seria uma análise superficial, de uma opinião superficial, dada num programa superficial.

Xuxa faz parte da parcela da sociedade que forma opinião. Aí é que mora o perigo. Xuxa fala e a classe média ouve. A classe média é a motriz intelectual e produtiva. Nos últimos anos, tivemos exemplos claros disso. Se a classe média não comprasse a idéia do impeachment de Fernando Collor, nada teria acontecido. Se não acreditasse no Plano Real, não alcançaríamos à estabilidade econômica. Ela é a classe empreendedora, que gera emprego e arrecadação. Xuxa dizer que não acredita mais na capacidade de recuperação no Rio de Janeiro, soa como a opinião de toda uma parcela de habitantes cariocas que fazem a diferença. Não é bem assim.

Nos últimos vinte e cinco anos os governos carioca e fluminense alteraram ― e combinaram ― inoperância, incompetência e má intenção. Tudo começou com o Brizola e foi encerrada somente com o final da dinastia Garotinho e com a saída de Cesar Maia da prefeitura do Rio. Até agora é impossível avaliar a herança da união entre Sérgio, Lula e Eduardo. O populismo imobilizou a polícia, destruiu a estrutura de ensino e saúde e deixou as contas do estado em frangalhos. Para reverter essa situação, talvez leve mais tempo do que os vinte e seis anos desde a eleição de Brizola. Todavia, se a classe média (principalmente) fizer um esforço maior, as possibilidades de recuperação aumentam.

É uma mudança de atitude com relação ao que acontece. Temos que partir do princípio que a origem dos problemas que enfrentamos está na falta de políticas sociais consistentes e no tráfico de drogas. E sem consumo não há tráfico. Infelizmente, o maior contingente de consumidores de drogas está na classe média. Paradoxalmente, é a classe média que sofre com os seqüestros relâmpagos, com os roubos de carros, invasões a prédios, etc.. O garoto João Helio pertencia à classe média. Xuxa pode ter se esquecido de dizer que se a classe média prestasse atenção no seu voto e ajudasse a esclarecer aos outros como é importante a participação consciente nas eleições, poderíamos evitar os desastres que vemos no legislativo. Ou então, lembrar que, enquanto não cobrarmos veementemente medidas voltadas para a educação e cidadania dos mais pobres, soldados para o tráfico serão fornecidos em profusão.

Sim, Xuxa, a situação vai ficar pior. Isso enquanto acharmos que tudo será resolvido com um abraço na lagoa Rodrigo de Freitas ou com uma passeata na praia de Copacabana.

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