Ciclos

Nos próximos anos, teremos um novo ciclo econômico. Essa é minha opinião. Os cientistas tem um nome bacana para isso, especulação. E especular é bom demais.

Segundo os estudos, os ciclos econômicos são aqueles em que uma determinada atividade é a predominante. As demais atividades ou passam a ser secundárias ou complementares a essa principal. Aqui no Brasil, ouvimos muito falar dos ciclos do cana-de-açúcar, do ouro, da borracha e do café, mas nunca nos explicaram isso com profundidade. A globalização fez com que os ciclos tivessem alcance mundial, dada a integração das economias. Outro dado curioso é que os ciclos podem ser mais curtos do que antigamente, mas seu período médio é de dez a quinze anos. A observação de tais ciclos é muito utilizada pelos estudiosos do mercado financeiro.

Nos anos 90, tivemos o ciclo das empresas de tecnologia (as “.com”). Fui quando a turma das do leste dos EUA ― e de outras partes do mundo ― ganhou dinheiro demais. Foram inúmeros os casos de garotos que montavam empresas em suas garagens e depois se tornaram milionários. Bill Gates é o exemplo mais notório. O homem mais rico do mundo, segundo a revista Forbes. A euforia foi tal, que se criou uma bolsa exclusiva para a negociação de ações das companhias de tecnologia. Depois, entramos no ciclo das commodities, momento em que as ações das empresas de commodities tiveram uma valorização galopante. Isso ocorreu devido ao crescimento dos BRIC*, gerando uma demanda muito grande de petróleo, minério, cimento e grãos. Esse ciclo atingiu o seu ápice e pode ter chegado no ponto de inflexão. Vide como as ações da dupla Vale e Petrobras despencaram nos últimos meses. Apesar da necessidade de consumo continuar grande, o ritmo de crescimento dessas economias vai ser menor. A Rússia, por exemplo, parou.

Agora chegou o momento que mais gosto. Vou especular. O próximo ciclo, talvez o mais longo de todos, será o das empresas “verdes”. Que são aquelas que tem a preservação do meio ambiente como atividade principal, ou que em seus planos de negócio exista a real preocupação com o crescimento sustentável. Sendo assim, países que dependem exclusivamente de petróleo, gás, mineiração e atividades que sejam essencialmente poluentes para geração do PIB poderão ver um esvaziamento de suas divisas no longo prazo.

É o que muito provavelmente vai acontecer com a Venezuela de Chávez e os países do oriente médio cujas economias são fundamentadas no petróleo. A Rússia, novamente, corre o risco de entrar nessa armadilha. O mundo está em estado de choque, a economia mundial está capenga, o aquecimento global nos assombra. Temos uma nova ordem se apresentando, mesmo que ainda timidamente. Contudo, países centrais mostram claros sinais de que já entenderam a mensagem. A Grã-Bretanha tem no ministro de energia e mudança climática (Ed Miliband, um jovem de 39 anos) seu segundo homem na escala de poder do governo. Todo indica que ele será o sucessor de Gordon Brown no cargo de premier. Nos pacotes de ajuda às empresas dos governos estão incluídas ações de desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e redução de emissão de gases.

Esse novo ciclo tem como característica interessante o fato de crescimento sustentável e preservação de meio ambiente não combinarem com estados totalitários, nem com concentração de renda ou com baixos índices de desenvolvimento humano. A mudança é necessária e urgente. Sempre ouvimos falar que o dinheiro não tem cor. Todavia, parece que no futuro ele terá. Todo mundo vai querer as verdinhas. E não necessáriamente as que tem a esfinge de George Washington estampada.
*BRIC: Grupo das mais importantes economimas emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia e China.

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