Inocência?
Assisti o tal Inocência dos Muçulmanos, ainda "em cartaz" no Youtube. O filme é ruim demais. Os seriados de super-heróis japoneses dos anos 1970 e 1980 são melhor produzidos do que esse lixo. O filme é dublado e remendado de forma grotesca. As vozes mudam quando as adulterações nas falas originais são feitas. Algo como um personagem interpretado pelo Tarcísio Meira que, de repente, aparecesse com a voz do Zacarias. Aí me veio a pergunta: Como alguém pode dar crédito a esta porcaria?
O problema é que tem gente que dá. Problema maior ainda são os que não dão e fingem que dão. Intencionalmente. Vejam, o filme tão ruim, tão inverossímil, que nem Mahmoud Ahmadinejad, um sujeito que duvida do holocausto, fez festinha com o caso. Logo, quem está usando o pretexto para promover uma chacina de cães infiéis yankees é gente pra lá de intencionada. "Fundamentalistas", dirão muitos. "Sim", concordariam outros. Mas de quais fundamentalistas estamos falando? Os que queimam o Corão nas praças texanas, ou os que queimam embaixadas em Benghazi e em outros países onde o Islã é a religião dominante?
O fundamentalismo é burro. Tudo que generaliza, que sintetiza demais, que vê o mundo de forma simplista é burro. E o fundamentalismo é assim. Seja ele religioso, econômico, social ou antropológico. Seja ele cristão ou muçulmano. Essa burrice endêmica se alastra nos liderados, que, infestados por sei lá o quê, transformam suas profissões de fé em banhos de sangue. Deus é amor. Alá, até onde sei, é a figura do mesmo Deus dos cristãos. Pela lógica do "2 + 2 = 4", Alá é amor. Mas a turma prefere dar um tiro a dar um aperto de mão. Em ambos os lados, atacar é a ordem.
Se nos EUA, os fundamentalistas perderam certa força com a ascensão de Obama, no Oriente Médio eles estão cada vez mais fortes, sob o pretexto da tal Primavera Árabe. Na verdade, o que ocorre lá é a retirada do poder de ditadores sanguinários, para que estes sejam substituídos por religiosos sanguinários. Eis o novo nó americano no xadrez geopolítico. Apoiar um ditador que mata seu povo, mas não lhe ataca, ou religiosos que oprimem o mesmo povo, mas que lhes manda bala sem pensar duas vezes? As duas situações ferem os preceitos de liberdade e democracia estadunidenses. Obama, em plena campanha, vê-se obrigado a lidar com uma situação da qual consegui escapar durante todo o seu mandato. Ele achou Bin Laden, deu fim ao meliante, conseguiu manter a sua aura "paz e amor" de negão gente boa e ainda cantou Let's Stay Together. Mitt Romney, a versão americana de Justo Veríssimo*, mostrou que pode ser mais desastrado que Bush em situações como esta.
E tudo isso, por causa de um filme feito num fundo de quintal, com atores de péssima qualidade e produção bisonha. O título desse filme de quinta é Inocência dos Muçulmanos. Infeliz até no nome... Deveria se chamar Tolice dos Homens.
*Personagem criado e interpretado por Chico Anysio, um político que assumidamente odiava pobres.
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