Falta Ousadia.
Previsão de crescimento do PIB para 2012: 1,2%, sujeito à revisões para menos. O que era considerado uma piada pelo ministro da fazenda, Guido Mantega, mostra-se uma realidade nada engraçada. O país parou. Essa é a verdade. O que no fundo se revela é a incapacidade do Brasil de dar braçadas além da onda. Estivemos sempre "surfando" nos últimos anos. Surfamos no crescimento mundial, e na "marolinha" da crise mundial (como se faz piada com coisa séria!). A onda da bonança acabou e a marolinha se mostrou enorme.
Ter fundamentos econômicos sólidos não se mostrou o suficiente para nos colocar num ciclo virtuoso e sedimentado de crescimento. Combate à inflação e à pobreza são importantes, mas não é tudo. O governo, com seu tamanho paquidérmico, se afunda nas rubricas de custeio e não tem como investir. Nossos níveis de industrialização ainda são baixos, comparados à nossa população e a países de economias de portes similares. E, fato gravíssimo, temos níveis de educação vergonhosos. Nos anos 1970, Brasil e Coréia do Sul tinham 10% de sua população com nível superior completo. Quarenta anos depois, continuamos nestes patamares, enquanto 60% dos sul-coreanos passam pelos bancos da universidade. Isso me faz concluir que nos falta ousadia.
Se olharmos no retrovisor da história, veremos que os nosso problemas, as reivindicações de empresários, os alertas dos economistas são muito similares aos de 20 anos. Falta de investimento do governo em infraestrutura, carga tributária alta, baixo estímulo a poupança interna e, claro, investimento pesado em educação. Até agora, nada de efetivo foi feito. Governo algum peita uma reforma tributária. Nossa educação é voltada e idealizada sob a visão de um modelo ultrapassado, onde o mercado é quase um inimigo. Em países de indústria de ponta, as universidades não somente têm o mercado como aliado, mas como também um patrocinador essencial e um indicador forte de tendências. Falta ousadia em quebrar este modelo, chamar o empresariado brasileiro para ser parceiro e voltar a geração de conhecimento para as atividades que geram valor agregado. Alguns vão dizer que existe forte investimento em Engenharia de Petróleo e outras formações voltadas para esta vocação brasileira. Concordo, mas não somos só petróleo. Investimentos direcionados para a tecnologia de ponta em equipamentos, medicamentos, fontes alternativas de energia, serviços e tantos outros campos que temos grande potencial e continuamos a pagar (e caro) para usá-los. A solução passa obrigatoriamente pelas universidades e pelos institutos de pesquisa, que poderiam ser abastecidos com recursos vindos da iniciativa privada.
O governo federal lançou um pacote de ações que poderão diminuir a distância que temos dos países desenvolvidos, no que tange aos gargalos para se produzir, compra e vender no Brasil. É pouco, mas é um começo. Tímido, é verdade, já que um governo de esquerda tem grande dificuldade é privatizar ativos, ou fazer concessões de serviços que poderiam ser prestados por ele. Ainda falta a virada na educação, melhorar a vida de quem quer fazer negócios no país, organizar os impostos e viabilizar e fiscalizar com rigor os serviços oferecidos. Nos últimos 10 anos, quarenta milhões de pessoas foram introduzidas no mercado brasileiro, um feito e tanto. A classe C foi às compras. Contudo, não se sabe se poderemos manter tais pessoas nestas condições definitivamente. E mais, para introduzir mais pessoas na classe média brasileira, é preciso que tenhamos ações muito bem definidas e contundentes por parte dos governos. Já passou hora de investir em educação direcionada às demandas de mercado e bancar uma reforma tributária. Isso é para ontem.
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