Avatar


Um dos maiores sucessos de bilheteria do cinema, Avatar (2009, James Cameron, Lightstorm Entertainment, 20th Century Fox), tem um mote simples: um ex-fuzileiro naval, que impedido de todos os seus movimentos por ser paraplégico, é conectado por vias neurais a um Avatar mais forte, mais rápido e (bem) mais alto que ele. Avatar é o nome da foto que temos nas redes sociais, é a identidade que assumimos.


E qual identidade é essa? Responder esta pergunta não é simples. Um dia desses, alguém muito próximo me disse que iria deixar o Facebook, pois na rede social todos eram felizes demais, perfeitos demais, bem sucedidos demais. “Ninguém tem problemas, todo mundo é legal no Facebook”, sentenciou. De fato, é muito raro um caso em que alguém diga que está triste ou que está passando por algum problema, e que insista na questão. Há alguns que quando o fazem, estão atrás de algum tipo de reação de carinho e atenção de seus interlocutores virtuais. Mas é tudo no campo da exceção. Nas redes sociais temos a chance de sermos melhores, mais altos, mais fortes, mais cultos, mais inteligentes, melhor sucedidos, mais corajosos e mais bonitos do que porventura sejamos.

Vez ou outra, vejo alguém comentando da exacerbação da felicidade nas redes sociais. Está todo mundo bem demais na foto. O que não é ruim. Mas é suspeito. O exagero é uma denúncia do desequilíbrio. Óbvio. É também uma expressão paradoxal da falta. Exagerar pode ser, muitas vezes, tentar mascarar. O exagero pode ser uma espécie de autocatequese. Exagero na ideia até que ela me convença. Digo que sou feliz para acreditar disso, mesmo que depois de eu clicar em “sair” a realidade me mostre algo bem diferente. Faço como aquele doutrinador que arrasta uma multidão de fiéis, não crê nas próprias palavras, mas de tanto falar naquilo, acaba se convencendo. Muitas seitas surgiram assim. Estamos vivendo o nascimento da seita “felicidade”?


Ser feliz é bom demais, verdade. Queremos ter sucesso, encontrar um amor de verdade, viajar, não ser reprimido nos nossos desejos mais íntimos, ter uma casa legal e filhos saudáveis, viajar bastante e comer pratos maravilhosos. E, principalmente, querermos ser aceitos do jeito que somos, por quem mais desejamos que nos aceitem. Não há nada de mal nisso. Mas é preciso entender que antes de dizer é preciso ser.


Você diz que é feliz. Diz... Ser é outra história. Seu Avatar pode até dizer que é feliz. Mas quem tem que ser feliz é você. 

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