O Haiti não é aqui.

Hoje (para mim ainda é quinta-feira), vi na primeira página do jornal Extra uma das fotografias que mais me chocaram em toda a vida. Um homem chorava e carregava o cadáver de sua pequena filha, cuja vida foi ceifada no terremoto que aconteceu no Haiti. Talvez aquela imagem nunca mais saia da minha lembrança. Por sua agressividade e por toda a dor contida nela. Um pai impotente diante de uma tragédia sem proporções.

O Haiti foi o primeiro país das Américas a se tornar independente. Um processo sangrento e sanguinário. Já que, diferentemente dos outros casos de independência na Pan-América, quem liderou o processo foram os escravos africanos, revoltados e sedentos de vingança de tantos anos de maus tratos. Um país marcado pela pobreza, pela corrupção de seus líderes e pelas catástrofes naturais. Tudo para dar errado. E deu. Um haitiano médio vive com menos de um dólar por dia, depende de ajuda humanitária de outros países e morre cedo por não ter acesso aos avanços da medicina e do saneamento.

Se há algum lado positivo nas tragédias naturais, provavelmente é o fato de elas serem justas. Elas destroem os ricos e os pobres. Incrivelmente, existem ricos (muitos corruptos) no Haiti, o país-favela. E estes foram tão trucidados quanto os pobres. O país foi mastigado e cuspido por um terremoto. A ferida está exposta. O que restou de um país tacanho pode ser a semente de uma nação briosa e relativamente próspera.

Como diz a música homônima de Caetano e Gil, “Pense no Haiti. Reze pelo Haiti”. Poucas vezes na vida, eu agradeci o fato de ter nascido no Brasil. O Haiti não é aqui. Ainda bem.

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