Conto da Decisão.
Ela sempre lembrava, quando as promessas que ele
fez não eram cumpridas por com quem ela decidira ficar. Pensava se era tudo
aquilo possível. O sonho de amor, o príncipe cheio de defeitos, mas que a
encantara. Que a olhava sem julgamentos ou regras.
Sentia-se só, por vezes, mesmo cercada de pessoas e atenções. Tudo e nada no mesmo
espaço. O novo com jeito de passado. Mais do mesmo. Mais um dia, mais uma noite
solitária na cama habitada por dois. Onde estaria ele? O que estaria fazendo?
Com que estaria? Ainda pensaria nela? Ela pensava, fechava os olhos e tentava
trazê-lo para perto. A voz, o olhar, as flores mandadas sem razão, os pequenos
presentes, tão precisos. O anel, o livro e as cartas guardadas à sete chaves.
Teve vontade relê-las todas. Da mensagem mais despretensiosa até as declarações
de amor e desejo. Ao mesmo tempo em que duvidava da possibilidade que ser
sempre assim com ele ao seu lado, ela no fundo tinha a certeza que seria.
Era como se o sabor do beijo fosse real.
Podia sentir os longos dedos dele entremeado carinhosamente os seus cabelos. Há
tempos, não recebia um elogio que não fosse protocolar. Bela, sentia-se menos
atraente por conta do passar dos anos. Recordou que ele sempre a elogiava e que
achava nela graça sem motivos. Aliás, tudo era motivo. Ele a tinha decorado nos seus mais simples gestos e maneirismos. Coincidentemente, no rádio tocou uma música que
ambos gostavam. Eram tantas músicas...Ela fechava os olhos e sorria contido. Ele parecia estar lá.
Um barulho de chave que
se contorcia na fechadura da sala. Era o som da realidade. A realidade da
decisão. Uma decisão tomada, que poderia transformar seus planos em fatos e
seus desejos mais íntimos em ilusão.
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