Maconha Ltda.

Antes de qualquer coisa, quero declarar que sou contras as drogas. Mais que isso, sou contras a hipocrisia das classes média e alta, que são os maiores consumidores de drogas no Brasil e depois ficam chorando carambolas aos ter seus filhos entregues ao bel prazer dos traficantes ou mortos pelas overdoses ou pelas balas perdidas. Sou a favor da prisão de quem cultiva, processa, distribui, compra e consome. Para mim, são todos elos nesta corrente nefasta.

Na Revista do jornal O Globo de domingo, 07 de fevereiro de 2010, a reportagem da capa (Causa Própria) fala sobre a nova moda entre os maconheiros: cultivar em casa a própria maconha. O personagem principal é um marmanjo de 34 anos, que mora com a mãe em Copacabana e planta canabis no banheiro da suíte. O sujeito é emblemático. Bem nascido, mora em bairro nobre, estudou na Escola Corcovado e ainda deu a entender que alguns de seus coleguinhas de sala de aula freqüentavam também a de boca de fumo. Seu projeto é uma loja especializada em “plantio indoor” e, do jeito que a coisa vai, tem tudo para ser um sucesso.

A reportagem segue, vai mostrando que o movimento de cultivo caseiro da droga vem crescendo e ganhado adeptos. Cresce também no apoio que recebe de autoridades.
Tem ex-presidente que esqueceu que o país que ele governou durante oito anos não se livra de um mosquito da dengue e que não saberá cuidar dos dependentes químicos que precisarão do sistema de saúde. Tem também um ex-governador que tem um escritório de advocacia especializado em defender endinheirados com problemas com porte de drogas ilícitas e que foi vice de certo governador que não deixava polícia subir nos morros atrás dos traficantes. Tem setor do Ministério do Meio Ambiente e por ai vai.

Meu espanto é que não me pareceu que a reportagem se atentou que este seu objeto pode estar retratando o início da mudança de mãos no controle do varejo do tráfico de drogas (sou um pobre ingênuo...). A turma que tem dinheiro, escola, luxo e nome a zelar deve estar cansada de ter que falar com a gente dos morros e favelas, ter que negociar com gente que usa armas e matar por muito pouco na hora de conseguir seu bagulho. Eles são instruídos, têm acesso à tecnologia e às técnicas mais modernas de administração. E o mais interessante: não vivem à margem e têm dinheiro para contratar os melhores profissionais para defenderem seus interesses (muitas vezes eles são os próprios).

O próximo passo será a “glamouralização” atividade. Será aplicado todo um charme no negócio. No futuro haverá simpáticas lojas, com interessados vendedores e vendedoras — é ótimo ser atendido por uma vendedora bonita e atenciosa, tem que se cuidar para não comprar além da conta. Mas atrás disso tudo, estará o tráfico de drogas, os problemas de saúde pública, o vício corroendo as pessoas. Estará a destruição de famílias inteiras, de patrimônios construídos com esforço e honestidade. Tudo muito bonitinho, bem embalado e com nota fiscal. A maconha dividirá a grade de comerciais com as bebidas alcoólicas e o cigarro. E, aposto, alguém vai dizer: “Experimenta!”

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