Mudar para ser o mesmo.
"Há momentos na vida
em que para continuar o mesmo você tem que mudar."
(Leonardo Boff)
Estou há uma semana pensando
nesta frase. Pensando profunda e insistentemente. Mudar para continuar o mesmo.
É óbvio, mas de difícil digestão. É um protesto contra a auto violência que em
momentos da vida, sem percebermos, somos submetidos. É sem dúvida um das
maiores dicotomias da existência humana: mudar para continuar o mesmo. Mudar o
que?
Mudar é difícil. Digo mudar
de verdade. Mudar de lugar de na sociedade, mudar a maneira de lidar com o que
sempre esteve lá e mesmo assim não nos fazia completamente felizes, mudar toda
a superfície para manter a essência. Mudar dói. Dói muito por vezes. Mudar é
solitário. Até porque, dependendo da situação, pode ser que sua mudança não seja
interessante aos outros. Que (não) seja... Mudar é vital.
As pessoas se acostumam
com qualquer coisa. Por
exemplo, quantos de nós podemos dizer que (além de Deus) somos os verdadeiros
donos de nossos narizes? Quantos de nós não cedemos aos encantos dos preceitos
sociais, dogmas, tradições de família e tantas outras maneiras de adequação da
vida cotidiana que nos são passados por gerações? Quantos médicos, advogados e
engenheiros são competentes e infelizes por terem seguido as profissões de seus
pais, sendo que poderiam ser qualquer outra coisa e muito mais realizados?
Quantos relacionamentos são mantidos para que tudo corra na maior normalidade
se maiores questionamentos?
Ando numa fase de texto
muitos pessoais. De reflexão e reflexo do que tem acontecido comigo nos últimos
tempos. Minhas mudanças, descobertas e decisões. Tudo na busca de manter o
mesmo. A gente descobre que pode algumas coisas e que outras não. Engole seco,
se decepciona, se frustra. Mas não pode deixar de seguir em frente. Tem muita
pedra para ser desviada.
Quem é de vôo vai sempre
procurar o céu. As plantas crescem na direção do sol. Fugir da natureza é
criminoso, assim como matar seus sonhos, até os mais simples. Em determinado
momento é tão agressivo que nos tira a saúde. É preciso estar atendo desde os
primeiros momentos. Não prego aqui o desvairado abandono de compromissos e
responsabilidades. Não é isso, muito longe disso. Mas falo do compromisso maior
com a nossa essência, com a alma.
Estou em mudança. Querendo
descobrir o que tem mais de mim para ser e ainda não consegui ser. Quais minhas
possibilidades e aproveitá-las. Quais minhas limitações e pedir a Deus a
compreensão para saber lidar com elas. Na mudança a gente se sente pequeno, mas
depois deve aparecer uma sensação de crescimento. É preciso olhar para trás e
ter a certeza que se fez o certo. A vida é um colchão curto, não se pode ter
tudo. Sendo assim, prefiro ter a certeza de que eu sou eu mesmo. Que mudei tudo
para continuar sendo o que sou no melhor de mim. Sendo mais feliz comigo e
espalhando esta felicidade para quem estiver perto de mim. Felicidade verdadeira,
não a esperada pelos outros. Mas aquela que foi comprometida por mim mesmo.
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