Dia da Consciência Negra: Quem é o seu herói?

Dia 20 de novembro: Dia da Consciência Negra. 
Herói: Zumbi dos Palmares. 

Herói? 

Zumbi pode ter sido um marco, mas não pode nos definir. Não considero Zumbi um herói. O famoso (e/ou suposto) mártir fugiu para viver escondido, à margem, numa comunidade muito peculiar. Sim, naquela época só lhe restava fugir. Sim, naquela época só lhe restava viver à margem. Sim... Naquela época. 

Mas não estamos mais naquele momento da história. Quem são nossos heróis, ou quem deveria ser? Zumbi, em tese, queria a (sua) liberdade. Hoje os negros são livres, mas vimos que ser livre somente não basta. É preciso ascender numa sociedade que insiste em ver os negros como menores ou incapazes de seguirem suas vidas sem o amparo institucional. 

No Dia da Consciência Negra, o escravo fujão Zumbi é festejado com exclusividade, em detrimento da memória à homens negros que ascenderam socialmente sob um pressuposto europeu. Gente como Machado de Assis, Lima Barreto, José do Patrocínio, André Rebouças, Antonio Rebouças, Cruz e Souza e Ernesto Carneiro Ribeiro, que antes mesmo da abolição da escravatura já vivam como homens livres, se destacavam em suas áreas de atuação e lutaram pela libertação dos negros. 

Este grupo de homens é mais valoroso que a figura de zumbi. Pois estes não negaram a cultura local e fizeram dela uma ferramenta de busca pela igualdade. Não se portaram (novamente) à margem e sim no centro e com destaque. 

O meu dia 20 de novembro nunca foi para lembrar Zumbi. Mas sim para lembrar que a igualdade tão almejada pelos negros passa obrigatoriamente pela consciência de que isso só se obtém valorizando e imitando os negros que fizeram do conhecimento e do trabalho as chaves para abrir os grilhões. 

Enquanto seu herói for um escravo, você será escravo com ele. 

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