Sobre as capas de revistas.

As mulheres sempre foram observadoras de si mesmas. Nos detalhes, cada um deles. Elas sabem exatamente a cor do esmalte que as outras estão usando, as diferentes tonalidades de cor de cabelo, se aquele corte está na moda ou se o sapato que a Fulana está usando na festa é o mesmo que a Beltrana usou no casamento da Sicrana.

É típico da mulher observar e se observar. São horas de espelho. Qualquer superfície polida pode ser espelho. São cremes, batons e tantos outros cuidados e adornos que meu cérebro masculino não absorve nem um centésimo desse conhecimento. Isso sem contar os famigerados dois quilos (quase folclóricos) que as mulheres sempre querem perder.

Por falar em quilos, vêm à lembrança as capas de revistas de moda feminina. Verdadeiros cultos à irrealidade. Modelos esquálidas, chapadas, restas e retocadas (ou seriam refeitas?) pelo Photoshop. Aquilo não é uma verdade, pois sim uma mentira muito bem contada, ao longo do tempo. A mentira de que perfeição e beleza estão diretamente ligadas à magreza extrema.

Revistas femininas são compradas por mulheres. Os homens passam batidos por elas. Homens gostam de revistas de carros, de relógios, de negócios e (até) de armamento. Gostam também de revistas "masculinas", aquelas em que a gostosona da vez posa nua, em troca de um apartamento de dinheiro para ajudar a família no interior do Paraná. Muitas vezes, a gostosona nem é isso tudo e no mês seguinte ninguém lembra da moça.

Voltando às revistas femininas, vemos em suas capas mulheres cada vez mais magras e títulos cada vez mais descasados. Geralmente é alguém com um manequim de recém saída de um campo de concentração nazista, com um vestido mínimo e uma chamada nos moldes "Bem-sucedida, feliz, apaixonada e magra."

Magra? Heim? Isso não é magreza, é flagelo.

Mulheres belas, e magras, de verdade não necessariamente vestem 36. As mais bonitas e interessantes que conheci estavam e estão longe disso. E é preciso lembrar sempre uma coisa: os homens não gostam de magrelas extremas. Até por questões sociais. Detestamos mulheres cujas dietas são uma desequilibrada religião. Elas não nos acompanham à uma pizzaria vez ou outra, não curtem o churrasco de aniversário do nosso amigo, não cedem à pipoca no cinema com os pequenos... Pior, abrem espaço para a nossa solidão, por conta da chatice que é viver com alguém em eterna auto-restrição.

Uma vez eu ouvi dizer que uma mulher se arruma para si própria, depois para as outras mulheres e por último para o homem que ela deseja. Tem muito de verdade nisso, apesar de ser uma ordem invertida. Ao meu ver, uma mulher deveria se arrumar para si mesma (autoestima sempre), depois para o seu homem e as outras que se danem.

Os homens, por sua natureza, gostam de coisas palpáveis - em vários sentidos... E em algum momento da história pós-moderna fizeram as mulheres acreditarem que queremos algo idealizado pelas próprias mulheres. Queremos mulher bonitas? Sim. Queremos mulheres bem cuidadas? Sim. Queremos mulheres de verdade? Sim e principalmente. É muito bom ver a mulher que desejamos em forma, cheirosa, bem de saúde. Mas, acima de tudo, é bom demais ver esta mesma mulher liberta da mentira da que é chamar aqueles sacos de ossos nas capas de revistas de lindas.

As mulheres mais lindas que passaram por minha vida nunca posaram numa capa de revista.

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