O Paradoxo dos Sexos - Parte 3 - Espelho, Espelho Meu.
Assisti o filme Espelho,
Espelho Meu (Mirror Mirror, 2012, EUA), despretensioso, mas revelador aos
olhos mais atentos. Espelho é uma
bela desconstrução de estereótipos. Mostra
uma nova realidade que alguns insistem em não admitir: a princesinha de hoje
vai à luta. Uma alegoria bem interessante, pavimentada pelo conto de fadas de
uma frágil e resignada Branca de Neve, que depois de expulsa de reino herdado de seu pai, fica
aos cuidados de anões infantilizados, é enfeitiçada por uma maça envenenada
oferecida pela Rainha Má, até ser encontrada pelo príncipe encantado e ter seus
problemas resolvidos.
Quatro tipos são bem marcados nesta versão modernex da
história infantil. O primeiro é a Rainha Má. Mulher bonita e ardilosa,
que ainda acredita na beleza como garantia de um futuro certo. Ela nos faz
lembras as mulheres que sofrem do que chamaria de “síndrome da bengala”,
precisam de um apoio sempre. Logicamente, essa bengala é um homem, não
importando muito qual, em condições financeiras de bancar seu sustento e seus
caprichos. O medo da madrasta não é perder o trono para Branca de Neve. Mas
sim de ficar feia e menos atraente que a bela mocinha e assim não fisgar mais
ninguém. O lance dela é o patrocínio. Alguma semelhança como alguém que você
conhece ou já viu por aí? Muitas vezes, elas dão sorte e encontram o segundo
tipo: o príncipe. Este papel é um dos papeis mais antigos destinados à figura
masculina. Ser o salvador, o herói e sustentador de alguém, em tese, casta e
indefesa. Mas aí vêm as mudanças das gerações e ele entra em conflito com o
terceiro e principal tipo, a nossa princesa dos tempos modernos. Para ela um
parágrafo especial.
A Branca de Neve versão Espelho, Espelho Meu subverte o que
se espera dela. Na verdade é o resultado da grande mudança de comportamento das
mulheres pós-revolução sexual. Ela luta, literalmente. Em alguns momentos
desfere belos golpes em seus oponentes. É uma líder, firme, mesmo com seus
medos e incertezas. Encanta pelos dotes físicos, mas principalmente pela
articulação oral e intelectual. A princesa não é mais um troféu do príncipe. Agora
ela está em pé de igualdade. Ou o príncipe aprende e vai ser feliz com a
princesa valente. Ou vira bengala de uma figura como a madrasta.
Branca escolheu seus próprios amigos, os anões.
Completamente diferentes dos retratados pela versão original, inclusive em seus
nomes. Deixaram de ser infantilizados (amém!).
Com eles aprendeu a lutar, a ser um tanto “malandra” e saber se virar
sozinha. Eles são o quarto tipo, uma espécie de contraponto com o encanto e
retrato da vida dura fora dos muros do castelo. A maior lição que eles nos
deixam é que por mais diferente que o outro seja, ele tem necessidades e
desejos muito similares aos nossos.
Saí do cinema e a minha filha (fui com ela, claro) pergunta de
qual parte filme eu gostei mais. Eu digo que foi a parte onde a Branca de Neve
aprendeu a ser uma lutadora. Desta nova Branca de Neve eu sou fã. A outra era
muito sem graça.
E a maçã? Veja o filme, ora bolas.
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