O Plano B.


Dar errado é complicado. Em muitos casos, inaceitável por quem tem que encarar a derrota ou o abandono do sonho. Somos criados na perspectiva do triunfo. Não nos disseram que mérito não significa sucesso. Logo, fazemos uma relação direta entre as duas coisas, é inconsciente quase. Quantos meritosos já vimos, que jamais atingiram o sucesso num grau proporcional ao que lhes caberia. Ou que nem o sucesso alcançaram. Crueldade da existência humana, a qual a todos nós estamos submetidos. 

O que você vai ser quando crescer? Vai prestar vestibular para qual profissão? Essas são perguntas que sempre ouvimos, com a obrigação de seguir somente um caminho, uma via, uma chance apenas. Nela fundamentemos nossos sonhos, planos e desejos. É o nosso Plano A. 

O paradoxo é que, ao mesmo tempo que o Plano A é formulado, não somos ensinados a pensar no Plano B. Tão importante quanto, o B pode ser a nossa salvação e o verdadeiro caminho da realização. Somos todos repletos de possibilidades. Somos poços de talento. Abro aqui um parêntese: a palavra talento, quer dizer presente. Ou seja, somos presenteados com várias aptidões. Fecho parêntese. Caso contrário, triste seria a vida de um atleta, por exemplo. Aos trinta e poucos anos, muitos deles estão "velhos" para suas atividades para competições de alto nível. Porém, muitos jovens para outras atividades e extremamente produtivos. Encontrar um novo dom, uma atividade "normal" é o Plano B de muitos deles, o que os tornam tão bem ou melhores sucedidos do que no Plano A. Tenho um grande amigo, músico talentosíssimo, que durante um bom tempo tentou o seu Plano A. Fez o que pode, investiu tempo e dinheiro neste sonho. Não rolou. Tão talentoso com as notas musicais, ele também o é com uma língua estrangeira. Ali estava o Plano B. Hoje, desfruta de sucesso e reconhecimento profissional como professor e empresário. A música está lá, presente no seu coração e nas jam sections que ele freqüenta. Mas o Plano B talvez o tenha proporcionado coisas muito mais interessantes que o Plano A.


É preciso um exercício de desprendimento e (palavra da moda) desapego, para olhar as possibilidades de um Plano B. Formulá-lo é tão importante como o Plano A, pois ele é uma espécie de seguro contra fracassos perenes. Estamos sujeitos ao fracasso e ou sucesso. Muitas vezes, mais até ao fracasso. Fracassar não é ser perdedor. E perder é um evento que não pode se transformar em maneira de vida. O saldo tem que ser positivo e os instrumentos devem ser variados. Cabe a cada um de nós criar nosso Plano B. A vida passa, ela é uma só. Mas as possibilidades são muitas. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crocodilo falante

I Dreamed A Dream

Maio e Miles (Capítulo 4): Kind of Blue