De Novo...

Partida entre Palmeiras e Atlético Paranaense. Escanteio a ser cobrado, disputa dentro da pequena área, cabeçada do negro Manuel no (nitidamente descendente de nordestino) Danilo. Resultado: cusparada e xingamento, “Macaco!”.

O futebol é um dos retratos 3X4 das sociedades. Temos vários exemplos. A proximidade dos gaúchos com os argentinos se reflete na hora de comemorar o gol, quando a torcida desce até os alambrados, num movimento muito similar ao dos portenhos. Nos momentos de crise econômica, os torcedores de países europeus hostilizam os jogadores estrangeiros. O craque francês Zidane encerrou tristemente sua carreira, dando uma cabeçada num zagueiro italiano, ao ser chamado de “terrorista sujo”, reflexo do preconceito com relação a sua ascendência árabe.

Na quinta-feira passada não foi diferente. Basta uma situação de competição, de pressão ou de contradição e essa face feia das relações humanas é revelada. O futebol é um tubo de ensaio, um campo amostral do que ocorre na vida cotidiana.

O xingamento em si (ou injuria racial, no juridiquês) já nem me assusta mais. A gente meio que acostuma... E segue em frente. O chato é saber, ou melhor, não saber de onde vem o próximo impropério. No caso do futebol, o mesmo jogador que xinga é o mesmo que dá beijinho o negro de seu time, se este faz um gol. Da mesma forma, a mente curta pode pensar: quem me beija hoje, pode me chamar de macaco amanhã.

Eu sei que não é assim que as coisas funcionam.

Mas e quem não sabe?

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