Cor da pele, a chave hermeneuta.

O recente caso de ofensas racistas à cantora Ludmilla - somado aos outros episódios ocorridos com Thaís Araújo e, Maju e Sheron Menezes - mostra uma nova modalidade do racismo. O racismo de incômodo ou da inveja.

Explico:

Nos últimos 20 anos, temos cisto com mais freqüência (ainda que muito pequena) negro ocupando lugares de poder. Por lugar de poder, entenda-se não somente o exercício do poder, mas também o poder enquanto ação. Poder fazer, poder estudar, poder ter, poder viajar, poder comprar, poder morar e outros tantos "poderes" que até então era restrito a um outro grupo social. 

Lembro-me de uma vez um chefe meu me contar um diálogo entre ele e um diretor da empresa em que trabalhávamos. O então diretor disse que tinha muito cuidado com o que falava comigo, pois tinha medo de ser acusado de racista. Meu chefe, que nunca teve papas na língua, retrucou: "Você deve ter medo do que fala, mas não por isso. É sim porque ele pega seus furos todos. Ele sabe mais que você."
A história mostra que a "chave hermenêutica" de sucesso é a cor da pele. Ou seja, ter a pele escura ou clara vai determinar para onde você poderá ir ou até onde deverá chegar em sua mobilidade social.
Só que a coisa não é bem assim.
Ludmilla, Thais, Maju e tantas e tantos outros romperam esse 'establishment', ocupando o horário nobre, as capas de revistas, os elevadores de prédios de luxo e os assentos em restaurantes finos. Isso é competir com quem nunca teve competição e não sabe dividir o espaço até então exclusivo. No caso das mulheres, pior ainda. Porque, além do machismo, há também a questão da estética calcada no padrão europeu.
Nada contra o padrão europeu. Mas o mundo não é só Europa. Entendam isso de uma vez por todas.
O negro ascende, as ofensas mudam e não são menos cruéis. "Já que ele está aqui, vamos fazer de tudo para que sinta desconfortável, fora de contexto, incomodado, até que ele mesmo desista e vá embora. E tudo volta à normalidade." Aí virão os olhares desconfiados, a respostas ríspidas, a demora, a ignorância às opiniões emitidas, o descrédito às credencias. E, como se não disse suficiente tudo isso, os ataques pelas redes sociais.
Não se nasce preto. Torna-se preto com o passar do tempo. Quem me disse isso foi a doutora em educação Mônica Sacramento. É verdade. Nascemos seres humanos. À sociedade é que nos divide em cores. E os negros que ascendem social e economicamente e que não se escondem, tornam-se mais negros ainda (e solitários). Uma pena. Perdemos tanto com isso! Todos nós.
E nem falei de Joaquim Barbosa, Wilson Simonal, Paulo César Caju...

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