Novos Pobres.

Quase 200 pessoas foram presas, após enfrentamento entre manifestantes do Ocupem Wall Street e a polícia de Nova York. Já fazia quase um mês que a turma estava acampada na região. Motivo? Um protesto contra o sistema financeiro. Talvez uma das maiores ironias dos últimos tempos, os americanos estão reclamando do sistema que fizeram dos Estados Unidos o que são hoje ― ainda serão por um bom tempo a maior potência do planeta.

Esse paradoxo dos tempos atuais tem seu lado irônico, mas também seu lado trágico. O irônico é muito naquela linha “basta estar na chuva para querer um guarda-chuva”, quando os americanos, ao perceberem que seus empregos e renda estão se esvaindo, vão as ruas reclamar como os outros povos de qualquer lugar do mundo. Inclusive os povos do chamado mundo subdesenvolvido. E a policia nova-iorquina, por sua vez, age como a truculência de qualquer polícia. Inclusive as do mundo subdesenvolvido.

Mas o lado trágico é o que mostra um povo que mesmo preparado para viver anos em guerra com muitos países, que tem uma constituição que protege os direitos individuais e que tem instituições legais bastante sólidas, não está preparado para passar por momentos de grande adversidade econômica. De novo, como qualquer outro país. Os EUA calcaram sua economia do pós 2ª Guerra Mundial, nos mesmos princípios que ajudaram a construir a nação norte-americana. O pensador Tyler Cowen em seu livro The Great Stagnation (numa tradução livre, A Grande Estagnação), fala dos low-hanging fruit (ou frutos de fácil colheita) que ajudaram formar o poder econômico estadunidense. São eles a terra vasta e livre, tecnologia e povo esperto, mas com baixa escolaridade. Entendamos este último como uma espécie potencial para crescimento intelectual. Em 1900, 6,4% da população americana tinha chegado a universidade, ao passo que em 1960 este percentual já era de 60%. Contudo, os anos se passaram e a sociedade americana (e a ocidental por conseqüência) vive do mesmo jeito. Mesmo com os avanços absurdos da tecnologia, internet e medicina, basicamente a vida de um americano médio é a mesma que a do início do século XX. Parece absurda esta afirmação, mas se consultarmos qual era a visão de futuro que havia nos anos 1950, veremos que estamos mais próximos dos anos 1940 do que de um episódio dos Jetsons.

Os americanos se acostumaram a gastar muito, comer muito, comprar muito, consumir muito combustível e ter alto grau de endividamento. Logo, um momento de crise, o emprego se escasseia e todos estes hábitos são diretamente sacrificados. Para piorar, o país vive uma guerra inútil entre republicanos e democratas. Sendo que os primeiros derrubaram o país na dinastia Bush, não apresentam um projeto consistente para o país e estão interessados em perturbar a vida de Obama.

Nova vida para os americanos... Como já disse Marcelo Tas, os brasileiros têm uma nova oportunidade de trabalho nos EUA: ensinar os americanos a serem pobres.

Wellcome to the club!

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