Senta aí e toca.

A polêmica no meio musical carioca é prova aplicada pela direção da Orquestra Sinfônica Brasileira aos seus músicos, com a demissão por justa causa a quem não comparecesse. Vou colocar pimenta no acarajé: achei maneiro.

A OSB emprega seus músicos no regime da CLT. Pode, portanto, exigir que os mesmos sejam submetidos a processos de avaliação a qualquer momento. Quem nunca passou por isso nas empresas em que trabalhou? Quem não teve seu bônus de fim de ano atrelado a algum tipo de avaliação de desempenho? Faz parte do jogo. As empresas (e a OSB é uma) buscam excelência e querem ser reconhecidas por isso ― o famoso share of mind, tão falado no marketing. Pois bem, assim foi feito na OSB. Ou pelo menos se começou a fazer. Os músicos estão doídos (compreensivo). Alguns exaltados, outros cabisbaixos. Alguns não foram à prova e foram demitidos. Talvez iludidos pela vaidade e arrogância. Mas a maioria lembrou que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Salário no final do mês é bom e todo mundo gosta. Comportaram-se como profissionais. Se foram aprovados ou não, é outra história.

Roberto Minczuk tentou tirar a orquestra da inércia, da acomodação. Vale lembrar que sob sua direção houve um aumento razoável nos salários dos músicos. A acomodação é uma espécie de torcicolo moral. Quando saímos do ponto de conforto é que se percebe quão ruim era ficar naquela posição. O pescoço duro doi e atrapalha o resto do corpo.

As orquestras são organizações do conhecimento. Assim como são as consultorias, os grupos de teatro, os corpos docentes, os times de futebol. Sim! O Barcelona de Messi, Iniesta, Puyol e Xavi é uma organização do conhecimento. Assim como foi o Flamengo de Zico, Junior, Adílio e Andrade, ou o Santos de Pelé, Pépe, Clodoaldo e Carlos Alberto. Como tais, seu maior ativo está nas pessoas que fazem parte delas. Mas isso não é sinônimo de que estes “ativos” não precisam ser aprimorados, reciclados e até mesmo substituídos. Claro, tudo deve ser feito com o mínimo de respeito. Mas, colocar a prova as habilidades dos membros dessas organizações não é coisa de outro mundo.

O choque dos músicos da OSB deve estar fundamentado pelo desconhecimento e conseqüente falta de costume com sistemas de avaliação. Tenho uma má notícia: é assim que funciona na vida fora das paredes do Theatro Municipal. Tenho uma boa notícia também: nós, os seres humanos normais e incapazes de tocar numa orquestra com tanta primazia, estamos acostumados com sistemas de avaliação (às vezes bem mais cruéis). No início dói, mas depois a gente acostuma e tira de letra.

Então, senta aí e toca pra gente aplaudir.

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