Meu Querido Elefante


Torcedor é um bicho teimoso. Eu sou torcedor, sou teimoso. Pior, duplamente teimoso: nesta semana fui a um jogo do Flamengo (Jesus, o que é Magal?!) e no Engenhão. Às vezes, eu esquecia que estava no jogo e ficava me perguntando até que ponto vai a falta de praticidade crônica das nossas instalações. 

Por ocasião do Jogos Pan-Americanos de 2007, nasceu o Engenhão. Para quem não conhece bem a região, ele fica no Engenho de Dentro, bairro da zona norte carioca, caracterizado por residências de gabarito baixo (um, dois e três andares), muitas construídas no início do século XX (daquelas que têm a data de construção na fachada). As ruas são estreitas, típicas desta região da cidade. Tem uma estação de trem e fica relativamente perto de dois shopping-centers. O terreno onde foi construído o estádio pertencia à Rede Ferroviária Federal, era uma antiga oficina de vagões e locomotivas (uma das ruas que ladeiam o estádio se chama Rua das Oficinas), que virou uma espécie de cemitério de composições, depois foi cedido para ser posto de vistoria do DETRAN e que acabou sendo doado à prefeitura para a dar lugar ao aparelho esportivo. 

Uma combinação não muito eficiente. Pois, se existe uma estação de trem na porta do estádio, este é o único modal para transporte de massa que fica próximo ao local. De resto, temos linhas de ônibus e uma saída da Linha Amarela que circundam o nosso suburbano e simpático estádio. O Estádio Olímpico João Havelange, vulgo Engenhão, foi um concebido sob o preceito do "elefante na sala de estar". 

Teimoso sou eu, ao insistir em ir a um evento num lugar onde não temos maneiras de chegar sem engarrafamento, com fácil transporte de massa ou com estacionamentos espaçosos e abundantes. Teimosos somos nós cariocas, de não questionarmos decisões similares ou até impedí-las (vide Cidade da Música). Teimosos somos ao aceitar os serviços ruins do estádio e redondezas, o empurra-empurra na hora de entrar, o gás de pimenta no olho da criança e o ingresso caro. Teimosos somos em não discutir projetos da cidade. 

Agora, a nós teimosos restará conviver com elefantes em nossa sala de estar. Ou podemos deixar a teimosia de lado. Amanhã tem eleição. Não custa lembrar. 

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